Fiscal de obra que desabou nega erro e diz que exoneração era programada

Valdecir Galvane falou nesta segunda-feira (2) ao SPTV.
Prefeitura disse na quinta-feira que investigaria processo.



O agente vistor Valdecir Galvane de Oliveira, responsável pela fiscalização da obra que desabou em São Mateus, na Zona Leste, na semana passada, disse nesta segunda-feira (2) ao SPTV que sua exoneração, nove dias após o embargo da construção, estava planejada havia um ano e meio porque ele completou 35 anos de contribuição.


Na quinta-feira (29), a Prefeitura divulgou o nome de Oliveira e mostrou os documentosos de embargo da obra. O prefeito Fernando Haddad (PT) afirmou que a controladoria precisava investigar, porque o agente pediu exoneracão nove dias depois de embargar a obra. 
“Eu pedi a exoneração porque completei 35 anos de contribuição. E já há mais de um ano e meio eu vinha pleiteando a minha aposentadoria. Até o subprefeito já sabia que eu ia me aposentar”, afirmou.
Oliveira multou e embargou a obra em São Mateus em março, cinco meses antes do desabamento que matou dez operários. Ele disse que, nas duas vezes, falou diretamente com o dono do terreno, Mostafa Abdalah Mustafa.
"O proprietário disse que estava providenciando a documentação. Eu não posso crer no providenciando. Providenciando não é uma coisa. Se existe documentação sim, se não existe documentação, aplique-se multa. Então, eu não posso pensar no gerúndio. Estou andando, estou providenciando, vou ver, não existe. Tenho ou não tenho."
Desabamento em São Mateus (Foto: Arte/G1)
Oliveira contou que passou ela obra pelo menos mais duas vezes na semana seguinte ao embargo, e que, aparentemente, ele estava sendo respeitado. O Sindicato dos Agentes Vistores esteve na Subprefeitura de São Mateus. De acordo com a presidente, a fiscalizacão na obra não continuou depois da saída de Valdecir porque ninguém assumiu o posto dele.

"O que o supervisor me passou é que por falta de pessoal ele não conseguiu repor o responsável pelo setor em que Valdecir trabalhava", disse Claret Fortunato.
Os últimos dias viraram um drama para Valdecir Galvane. "Eu não fui à feira no domingo, porque todo mundo na feira me conhece. No supermercado, fiquei de óculos de sol de vergonha. No banco, entrei e saí, porque os funcionários do banco me conhecem. Meus primos, amigos, por que eu tinha derrubado o prédio? Teve gente que me perguntou isso. Eu falei: eu não derrubei prédio. Se um amigo falou que eu derrubei prédio, imagine o que passa na cabeça das pessoas a meu respeito”, disse.
As buscas na área do desabamento foram encerradas nesta quinta, às 16h15, quando os bombeiros localizaram o corpo da 10ª vítima. O acidente ainda deixou 26 pessoas feridas.
Omissão
Na tarde de quarta-feira (28), a Prefeitura deSão Paulojá havia divulgado nota para afirmar que não cometeu omissão e que iria apurar o motivo de o embargo não ter sido comunicado às autoridades. Ministério Público e pela Polícia Civil apuram se houve falha da administração municipal.
A Prefeitura diz que tinha negado alvará para o primeiro projeto do imóvel, que previa um galpão com um pavimento e era assinado por uma arquiteta. Um novo projeto com mudanças foi protocolado dias depois e também negado. A empresa responsável foi multada em mais de R$ 100 mil.
"Pesquisamos  o processo e, dadas as irregularidades, remetemos à CGM para apurar eventuais responsabilidades. Há documentos no processo que inspiram muito mais dúvidas do que nós gostaríamos", disse Haddad na quinta-feira.

Segundo a administração municipal, o fiscal Oliveira cumpriu parte do processo que deveria levar à paralisação da obra. Em 26 de março, de acordo com a administração municipal, Oliveira comunicou no sistema da Prefeitura as irregularidades  na obra. No dia seguinte, recebeu o retorno com a emissão do auto de embargo e a determinação da multa.
Entretando, ele apenas imprimiu os documentos e anexou ao processo, sem levar a autorização para embargo a outros órgãos da administração municipal e sem enviar os dados para a Polícia Civil.
Neste mesmo dia, o fiscal anexou ao processo uma declaração de próprio punho, dirigida ao seu supervisor, que a obra teria sido notificada, multada e embargada. Depois disso, o funcionário pediu demissão em 4 de abril.
"Ele documenta que pretendia levar ao conhecimento da Ouvidoria, do Ministério Público e da Polícia o fato de que houve descumprimento do embargo, ou seja, exatamente o que a lei determina que ele faça. Só que isso não chegou, não há registro na Ouvidoria. O que inspira cuidado adicional é que o agente vistor pediu exoneração no dia 4 de abril. Essas duas evidências nos fazem crer, com toda segurança, que o exame do processo exige cuidado."

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